Tuesday, December 06, 2005
O sofrimento da linda Saint-Yves
"O cérebro, que se julgava ser a sede do entendimento, foi tão violentamente atacado como o coração, o qual é, dizem, a sede das paixões.
Que mecânica incompreensível submeteu os órgãos ao sentimento e ao pensamento? Como é que uma simples ideia dolorosa é capaz de perturbar a circulação do sangue? E como é que o sangue, por sua vez, leva todas estas irregularidades ao entendimento humano? Que fluido desconhecido é esse, cuja existência é certa, que mais rápido, mais activo do que a luz voa em menos tempo que um pestanejar de olhos por todos os canais da vida, produz as sensações, a memória, a tristeza ou a alegria, a razão ou a vertigem, lembra com horror o que se quer esquecer e tanto faz de um animal pensante um objecto de admiração como um motivo de piedade e lágrimas?"
Voltaire, in "O Ingénuo"
O livro de onde extraí estes paragrágrafos data de 1767. As perguntas de Voltaire são super pertinentes. Através de devaneios poéticos Voltaire aproxima-se de verdades científicas relativas ao sistema nervoso - o "fluido mais rápido que a luz". Mais; Voltaire, ligando o emocional ao físico e questionando-se como tal poderia acontecer, entra no domínio das doenças psicossomáticas.
Seria uma delícia para ele assistir ao desenvolvimento actual da neurobiologia do sentir (Claro que acho que Voltaire ficaria mais espantado com outras coisas do presente... mas teria, pelo menos, uma boa sensibilidade para estas questões)
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"O cérebro, que se julgava ser a sede do entendimento, foi tão violentamente atacado como o coração, o qual é, dizem, a sede das paixões.
Que mecânica incompreensível submeteu os órgãos ao sentimento e ao pensamento? Como é que uma simples ideia dolorosa é capaz de perturbar a circulação do sangue? E como é que o sangue, por sua vez, leva todas estas irregularidades ao entendimento humano? Que fluido desconhecido é esse, cuja existência é certa, que mais rápido, mais activo do que a luz voa em menos tempo que um pestanejar de olhos por todos os canais da vida, produz as sensações, a memória, a tristeza ou a alegria, a razão ou a vertigem, lembra com horror o que se quer esquecer e tanto faz de um animal pensante um objecto de admiração como um motivo de piedade e lágrimas?"
Voltaire, in "O Ingénuo"
O livro de onde extraí estes paragrágrafos data de 1767. As perguntas de Voltaire são super pertinentes. Através de devaneios poéticos Voltaire aproxima-se de verdades científicas relativas ao sistema nervoso - o "fluido mais rápido que a luz". Mais; Voltaire, ligando o emocional ao físico e questionando-se como tal poderia acontecer, entra no domínio das doenças psicossomáticas.
Seria uma delícia para ele assistir ao desenvolvimento actual da neurobiologia do sentir (Claro que acho que Voltaire ficaria mais espantado com outras coisas do presente... mas teria, pelo menos, uma boa sensibilidade para estas questões)
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