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Wednesday, July 06, 2005

Noções de Sistemática

A Sistemática é o ramo da Biologia que procura ordenar todo o conhecimento relativo aos seres vivos. Dela faz parte a Taxonomia, cuja função é classificar todo o organismo vivo. A Sistemática também explora as relações de parentesco entre as espécies.
Mas, fundamentalmente, a Sistemática acaba por se confundir com a Taxonomia, a ciência da classificação.
Na Taxonomia valem essencialmente convenções. Uma espécie é classificada de uma determinada maneira por convenção e não porque exista essa diferenciação na natureza. A única categoria taxonómica natural é a espécie, porque, de facto, na natureza existem indivíduos que não se podem cruzar com outros mas que se cruzam entre si, sendo a espécie, precisamente todo o conjunto de indivíduos que se cruza entre si originando descendência fértil, partilhando o mesmo fundo genético. Um burro e uma égua podem cruzar-se dando origem a um indivíduo (mula). Este é estéril e, por isso, os burros e os cavalos constituem duas espécies diferentes.
Mas eu queria falar de sistemas de classificação. Por ser tudo uma convenção, coisas sempre relativas e muito discutíveis, não é, de facto, assim tão importante um leigo ter grandes conhecimentos deste tipo, mas acho na mesma interessante em termos de cultura geral. Noto que existe, em geral, um certo desconhecimento acerca destes assuntos.
Em Taxonomia importa falar primeiro da hierarquia taxonómica, criada por Lineu no século XVIII e ainda hoje usada com poucas modificações. Actualmente, esta hierarquia é composta por sete categorias taxonómicas (ou taxa) dispostas por ordem. Começando na mais abrangente: Reino>Filo>Classe>Ordem>Família>Género>Espécie.
Qualquer ser vivo é caracterizado por estes sete taxa. Por exemplo, o cão doméstico pertence ao reino Animalia, ao filo Chordata, à classe Mammalia, à ordem Carnivora, à família Canidae, ao género Canis e à espécie Canis Familiaris(a espécie é o único taxon com nomenclatura binominal).
Ok. Então quantos reinos existem? De acordo com a classificação mais usada actualmente (proposta em 1979 por Robert Whittaker) são cinco (ainda há muita gente que, como Lineu há 300 anos, pensa que são só o vegetal e o animal). Há o reino animal, o das plantas, o dos fungos, o dos protistas e o das bactérias. "Protistas? O que é isso?" Esse reino acaba por ser uma miscelânea de espécies com poucas semelhanças entre si. Abarca os seres cujas células têm núcleo (eucariontes) e são unicelulares ou multicelulares mas sem diferenciação de tecidos. No reino protista encontram-se os prováveis antepassados das espécies dos três reinos mais evoluidos (animais, plantas e fungos); as algas, os protozoários (proto animais, como o nome diz, sendo a famosa paramécia um exemplo. O plasmodium causador da malária e o trypanosoma causador da doença do sono também são protozoários) e os mixomicetes (proto fungos).
"Então e os fungos não são plantas?" Pois, as diferenças entre eles são grandes demais para que sejam colocados no mesmo reino. De facto, para além de uma grande simplicidade estrutural, a característica comum entre fungos e plantas que mais salta à vista é serem imóveis, o que não é grande argumento, especialmente quando comparado com todas as outras diferenças existentes entre eles. Na realidade, os fungos não fazem a fotossíntese. Como os animais, são heterotróficos precisando de alimento que não conseguem produzir. E adquirem esse alimento num processo de nutrição chamado absorção e que implica uma digestão extracorporal. Os fungos digerem os alimentos fora do corpo, lançando enzimas, e só depois absorvem os nutrientes. Existem também diferenças entre fungos e plantas ao nível da estrutura celular.
Vamos focar-nos agora no reino animal. Dentro dele distinguem-se dois sub-reinos: Parazoa e Eumetazoa. As esponjas são os seres (sim, as esponjas são animais!) que pertencem ao sub-reino Parazoa, pois são estruturalmente muito simples. Não existe nelas grande interdependência ao nível celular, cada célula está por sua conta, basicamente.
O reino animal é, na verdade, muito diversificado. Os vertebrados (os animais mais mediáticos) compõem apenas 5% das espécies deste reino. Existem cerca de trinta e cinco filos no reino animal. Vou falar de alguns, associados a animais conhecidos.
Existe o filo dos celenterados que engloba as medusas, o filo dos equinodermes que possui as estrelas-do-mar e os ouriços-do-mar, o filo dos platelmintes onde estão colocadas as planárias (uns bichos muito achatados e engraçados) e também as ténias, o dos nematelmintes (lombrigas,...), o dos moluscos. No filo dos moluscos importa referir algumas classes (o taxon a seguir ao filo, na hierarquia). Os caracóis e as lapas são moluscos da classe dos gastrópodes (com concha univalve, se bem que as lesmas também são gastrópodes), Os mexilhões e as vieiras são da classe dos bivalves e as lulas e os polvos são da classe dos cefalópodes (que têm uma concha interna, se movimentam por retropropulsão, e têm tentáculos na cabeça). Prosseguindo, há o filo dos anelídeos que tem bichos como as minhocas e as sanguessugas, o filo dos artrópodes. Dentro do filo dos artrópodes existem algumas classes importantes: a dos insectos, a dos crustáceos, a dos aracnídeos, a dos quilópodes e a dos diplópodes, etc. Os artrópodes caracterizam-se pelos apêndices articulados e pelo exosqueleto, essencialmente. Os insectos têm 3 pares de patas e os aracnídeos (aranhas, escorpiões, carraças, ácaros) 4. Os crustáceos (caranguejo, lagosta,...) são aquáticos e têm um exosqueleto mais forte. Os diplópodes são aqueles bichinhos com muitas patas (milípedes), pacíficos, como por exemplo aquele que se chama maria-café. Podem enrolar-se em espiral. Os quilópodes não têm tantas patas e não são tão pacíficos. São as vulgares centopeias. Finalmente chegamos ao filo dos cordados. Estes são os que possuem corda dorsal (pelo menos em fase embrionária, já que nós, por exemplo, na fase adulta, só possuímos coluna vertebral) e tubo nervoso dorsal, entre outras características. Existem, depois, vários subfilos dentro do filo dos cordados, como o dos vertebrados (finalmente!), cujos seres incluidos têm um encéfalo bastante desenvolvido, protegido por um crânio. Possuem, em geral, um endosqueleto bem desenvolvido. Dentro deste subfilo existem superclasses - dos peixes e dos tetrápodes. A superclasse dos peixes engloba os peixes ciclóstomos (lampreias), os peixes cartilagíneos (tubarões, mantas) e os peixes ósseos (robalos, salmões). Os tetrápodes dividem-se naquelas classes bem conhecidas: anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
Pois é. isto é um bocado complicado. Só dei uma amostra. Gostava até de ter dado mais pormenores, mas o post ficava chato demais, se calhar.
Através destas classificações pode-se ficar com uma nova noção das relações de parentesco entre os seres vivos. Aliás, era esse o meu objectivo. Constantemente há discussões (nada pacíficas, mesmo) entre os taxonomistas acerca da classificação de determinada espécie. Está sempre tudo em mudança.
Para acabar vou referir a hierarquia taxonómica do homem:
Reino: Animalia, Filo: Chordata, Classe: Mammalia, Ordem: Primata, Família: Hominidae, Género: Homo, Espécie: Homo sapiens, Subespécie: Homo sapiens sapiens

PS: desenvolvimentos do caso da mula aqui. Recomendo verdadeiramente este site

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