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Sunday, January 16, 2005

Caeiro é mestre

(...)
Vi que não há Natureza,
Que Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras.
Mas que não há um todo a que isso pertença,
Que um conjunto real e verdadeiro
é uma doença das nossas ideias.

A Natureza é partes sem um todo.
Isto é talvez o tal mistério de que falam.

Foi isto o que sem pensar nem parar,
Acertei que devia ser a verdade
Que todos andam a achar e não acham
E que só eu, porque a não fui achar, achei.
Alberto Caeiro
Caeiro põe-se numa posição exterior à razão, que pauta as sociedades ocidentais. Atinge, desse modo, um conhecimento a que os outros, racionais, não conseguem chegar.
Caeiro faz-me lembrar um indígena, um membro duma tribo perdida no meio da floresta ou numa ilha no oceano. Por exemplo, várias tribos habitantes de pequenas ilhas no Índico sobreviveram ao tsunami, enquanto que, nas praias de países ocidentalizados, dezenas de milhar morreram. Os indígenas não revelam como se salvaram, mas especula-se que tenha sido devido a conhecimentos milenares acerca do movimento do vento, mar e comportamento das aves. Mera observação, tal como Caeiro. Chegaram, por outra via, aonde a ciência ocidental chegou recentemente. Claro que o seu nível de conhecimentos não se pode comparar ao da moderna ciência, mas, pelo menos, foi mais prático e resultou.
Lembro-me também, a propósito do poema de Caeiro, de tribos amazónicas, que, através de alucinogénios, conhecem as propriedades terapêuticas das plantas que os circundam e maneiras de as combinar para alcançar determinado resultado. Não existe uma maneira racional de explicar este fenómeno, ainda, mas, mais uma vez, parece ser outro exemplo de como chegar ao conhecimento por um caminho exterior à razão moderna.

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