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Friday, September 17, 2004

Eu/Não-eu

Vou falar mais um pouco sobre o cérebro, Deus e as experiências místicas.
Existem vários tipos de experiências místicas ou transcendentais e nem todas são obrigatoriamente religiosas. Contudo, ao nível neurofisiológico, o que se passa em ambos os casos é semelhante; apenas muda a interpretação do sujeito individual em relação à experiência por que passou. Assim, o extâse de uma freira em oração é, aparentemente, o mesmo de um monge budista em meditação, biologicamente falando.
Queria falar de uma área do cérebro muito especial envolvida profundamente em qualquer destas experiências transcendentais, como demonstram estudos recentes. É, em inglês, chamada de orientation association area (OAA). É reponsável por quê? A sua função primária é a de, como o nome indica, nos orientar no espaço físico, dizendo-nos onde é o baixo e o cima, medindo ângulos e distâncias, enquandrando-nos na paisagem, no fim de contas. Para desempenhar esta tarefa crucial, esta área deve gerar, em primeiro lugar, uma clara noção dos limites do próprio indivíduo, ou seja, onde é que eu acabo e começa o resto. Assim, eu diferencio-me do infinito que é o universo. Parece de facto ridículo que o cérebro tenha uma estrutura que providencie uma distinção tão óbvia, mas essa é precisamente a prova de que a OAA faz o seu trabalho muito bem!
As técnicas de meditação (digo meditação num sentido muito lato) usadas podem ser muito diferentes umas das outras, mas todas acabam por afectar esta área, reduzindo a actividade, normalmente frenética, desta zona. A informação que deveria chegar a esses neurónios provenientes doutros é cortada e a OAA fica a funcionar a zero ou perto disso. Adivinhem a consequência essencial... Sem a informação proveniente do resto do cérebro, a clara diferenciação dos limites do eu desvanece-se. Como é que o cérebro interpreta isto? Ora bem, se a OAA não estabelece uma diferença entre mim e o universo, ambos se interligam num todo! E esta sensação torna-se absolutamente real.
Cá está! as experiências místicas, religiosas, transcendentais (chamem-lhes o que quiserem) caracterizam-se todas por se atingir uma União com algo superior, tal como um Deus ou o Universo.
Como praticante de Yôga, conhecer estes dados científicos foi muito engraçado, pois estão totalmente de acordo com a filosofia milenar que me foi passada. Ganhei uma visão muito mais completa acerca daquilo que é pretendido com a prática.

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