Friday, July 28, 2006
"Estou a inventar uma linguagem nova
...) Que finalmente diga o que temos a dizer, pois as nossas palavras já não correspondem ao mundo. Sempre que tentamos falar do que vemos estamos a falar com falsidade. Mas as palavras são capazes de se modificar.
Consideremos uma palavra que se refere a um objecto: guarda-chuva, por exemplo. Quando digo a palavra guarda-chuva vemos o objecto na mente. Vemos uma espécie de bengala com varas de metal que se dobram e que formam uma armação para um tecido impermeável que, quando aberto, nos protege da chuva. Este último pormenor é importante. O guarda-chuva não é apenas uma coisa. É uma coisa que exerce uma função. Que acontece quando uma coisa deixa de cumprir a sua função? Ainda é a mesma coisa ou transformou-se numa coisa diferente? Quando arrancamos o tecido de um guarda-chuva, o guarda-chuva ainda é um guarda-chuva? De uma maneira geral as pessoas ainda lhe chamam guarda-chuva. Quando muito dirão que o guarda-chuva está estragado. Mas isto é um erro grave, a causa de todos os nossos problemas. Como já não pode desempenhar a sua função, o guarda-chuiva já não é um guarda-chuva, no entanto a palavra continua a ser a mesma! Assim, já não se consegue exprimir o que é o objecto. A palavra é imprecisa e falsa. E se nem sequer conseguimos nomear um objecto comum do dia-a-dia que temos nas mãos, como é que podemos esperar falar das coisas que verdadeiramente nos preocupam?
O meu trabalho é muito simples. A cidade inteira é um monte de lixo. Serve admiravelmente o meu objectivo. As ruas são uma inesgotável fonte de material, armazém de objectos despedaçados. Saio todos os dias com a minha mala e recolho os objectos que me parecem valer a pena investigar. Coisas lascadas, desfeitas estilhaçadas, esmagadas, pútridas.
Dou nomes a essas coisas. Invento novas palavras que corresponderão às coisas"
Paul Auster in A trilogia de Nova Iorque (com alterações minhas)
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...) Que finalmente diga o que temos a dizer, pois as nossas palavras já não correspondem ao mundo. Sempre que tentamos falar do que vemos estamos a falar com falsidade. Mas as palavras são capazes de se modificar.
Consideremos uma palavra que se refere a um objecto: guarda-chuva, por exemplo. Quando digo a palavra guarda-chuva vemos o objecto na mente. Vemos uma espécie de bengala com varas de metal que se dobram e que formam uma armação para um tecido impermeável que, quando aberto, nos protege da chuva. Este último pormenor é importante. O guarda-chuva não é apenas uma coisa. É uma coisa que exerce uma função. Que acontece quando uma coisa deixa de cumprir a sua função? Ainda é a mesma coisa ou transformou-se numa coisa diferente? Quando arrancamos o tecido de um guarda-chuva, o guarda-chuva ainda é um guarda-chuva? De uma maneira geral as pessoas ainda lhe chamam guarda-chuva. Quando muito dirão que o guarda-chuva está estragado. Mas isto é um erro grave, a causa de todos os nossos problemas. Como já não pode desempenhar a sua função, o guarda-chuiva já não é um guarda-chuva, no entanto a palavra continua a ser a mesma! Assim, já não se consegue exprimir o que é o objecto. A palavra é imprecisa e falsa. E se nem sequer conseguimos nomear um objecto comum do dia-a-dia que temos nas mãos, como é que podemos esperar falar das coisas que verdadeiramente nos preocupam?
O meu trabalho é muito simples. A cidade inteira é um monte de lixo. Serve admiravelmente o meu objectivo. As ruas são uma inesgotável fonte de material, armazém de objectos despedaçados. Saio todos os dias com a minha mala e recolho os objectos que me parecem valer a pena investigar. Coisas lascadas, desfeitas estilhaçadas, esmagadas, pútridas.
Dou nomes a essas coisas. Invento novas palavras que corresponderão às coisas"
Paul Auster in A trilogia de Nova Iorque (com alterações minhas)
Wednesday, July 12, 2006
Estou farto de notícias "científicas" sensacionalistas nos jornais!
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